Essa semana toda eu passei aérea, algo me incomodava e eu não sabia o que era. Uma angústia, vontade de me esconder. Medo daqueles de quando você levanta durante a noite mas volta correndo pra cama por estar escuro, a hora em que sua casa estava desconhecida.
Quinta feira, ontem pra ser mais exata, não foi diferente, mas não dava mais pra adiar uma coisa e então fui. Me vesti de forma automática e fui. Bati perna, andei, andei, andei. Eu tinha que comprar algo mas não tinha vontade. Tudo era nhé. Tudo eu via sem enxergar. Me perdia, dava voltas sem saber onde queria ir. Não achava rostos, não sentia as pessoas, o ar e o calor eram meus únicos companheiros.
Mas vi uma velhinha. Ela saia do Ricoy cheia de sacolas e fazendo um esforço absoluto. Por um momento eu parei, eu vacilei. Não sabia o que fazer mas tinha que ser feito. Vacilei. Só então percebi que eu tinha que ajuda-la, eu precisava, era isso. Eu tinha que fazer isso. Mas quando me virei ela já havia sumido.
Me senti pequena. Continuei andando. O ar me faltou, a garganta fechou. E era isso, eu tinha que ajudar, eu tinha que fazer. Eu tinha que parar de vacilar. Mas vi tarde demais. Somente assim percebi.
Eu negligenciei parte da minha vida durante dois anos alegando falta de tempo, estresse, vestibulares, problemas. Eu tinha que parar de vacilar, tinha que saber, que sentir. Agora que descobri que eu havia de ter feito naquela hora, ou tudo desapareceria. E desapareceu. Então passei de cansada pra perdida.
Quando serei plena?